Direto do baú do tempo, retirado dos cadernos velhos do distante ano de 2002, "Uma noite de inverno". Para quem já leu, é uma chance de rever. Para quem não conhece, é uma oportunidade de conhecer um estilo que pouco uso por aqui: contos. Boa leitura.
Uma noite de Inverno
Não quero nem devo lembrar aqui porque me encontrava naquela barca. Só sei que, ao redor, tudo era silêncio e trevas. E me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável e tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um rapaz, uma moça com sua irmã e eu.
O rapaz, de aparência mórbida, vestia uma capa preta de lã. Sentava ao fundo, inquieto. A moça estava à minha frente. Sentada ao seu lado, a irmã, que a abraçava tentando espantar-lhe o frio. A mais jovem vestia apenas um vestido que mal tocavam as canelas.
Fazia frio. Logo de início pensei em oferecer-lhes o meu casaco, mas não o fiz. Por quê? Não sei. A viagem ia passando e a cada instante, sentia-me mais incomodado em não ter dado meu casaco à menina.
Uma névoa começa a pairar sobre a embarcação, esfriando ainda mais os já frios bancos da barca. Resolvi fumar um cigarro. Mas, ao pegá-los, a caixa de fósforos cai ao chão. A menina se desvencilha dos braços confortáveis de sua irmã e os junta do chão:
- Seus fósforos, o senhor deixou cair.
- Obrigado! – As palavras me faltaram. A menina num gesto inocente pôs a meu ver todo meu egoísmo.
Suas mãos tremiam, tamanho era o seu frio e eu, perplexo com tão belo gesto. Dei-me conta então, que deveria ter-lhe oferecido o casaco antes.
- Você está tremendo de frio. Tome o meu casaco!
- Não! Eu não devo.
- Como não? Pegue.
- Muito obrigado, não sabemos como lhe agradecer, é que estava quente à tardinha e eu e minha irmã nos atrasamos. – disse-me a moça.
Voltei-me para a moça que agarrara a mão da menina. Tinha cabelos castanhos, olhos verdes, brilhantes como duas esmeraldas. Notei que suas vestes eram simples, mas de muita elegância.
- Você não é daqui, é? – perguntou-me a moça, com um lindo sorriso.
- Não. Estou só de passagem, to indo visitar minha tia. Ela mora do outro lado do rio. E você, mora aqui por perto?
- Sim. Eu moro do outro lado do rio, subindo pela estradinha da direita. – explicou-me a moça.
Lembrei-me que quando criança, quando ia para casa de minha tia, brincava com uma linda menina de olhos verdes, que morava por perto. Só podia ser ela.
De repente, o rapaz levanta-se de seu banco, interrompendo o silêncio em que refletia.
- Dê-me a menina! Vadia. - gritou ele em tom ameaçador.
- Nunca. Afaste-se de mim! – respondeu ela apavorada.
E agora! Encontrava-me no meio de ambos, sem saber o que fazer. A moça apavorada parecia temer algo. O que fazer?
O rapaz tira uma arma do bolso da capa e ameaça atirar.
- Atire se quiser. Só me matando levará a Júlia. – falou a moça, colocando-se à frente da menina.
Ele engatilha a arma. Está prestes a atirar. Eu, num momento de descuido do rapaz, parti para cima dele, a fim de tomar-lhe a arma. Ele resiste. Durante a luta, dois tiros quebram o silêncio do rio.
O rapaz cai morto no chão e eu, olho para meu peito. Só sangue. Uma das balas me acertou. Caí ao chão, sem forças para levantar. A respiração começa a ficar ofegante.
Um flash-back de minha vida passa ali, diante de meus olhos. Era minha infância e via, na casa de minha tia, uma linda garotinha de olhos verdes, brilhantes feito esmeraldas.
A moça, num gesto de me socorrer, pega um lenço que tem no bolso e com as mãos, tenta estancar o sangue até terminar a travessia.
- É você! – disse quase já sem conseguir falar.
- Como assim?
- A bela menina que eu brincava quando criança no alto do morro.
- Meu Deus! Passei todos estes anos tentando encontrar-lhe e nosso reencontro tinha de ser assim?
A moça tira a mão de meu peito e beija-me.
Vou com um sentimento de felicidade, pois, minha última imagem foi a bela menina dos olhos verdes como esmeraldas.
Não quero nem devo lembrar aqui porque me encontrava naquela barca. Só sei que, ao redor, tudo era silêncio e trevas. E me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável e tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um rapaz, uma moça com sua irmã e eu.
O rapaz, de aparência mórbida, vestia uma capa preta de lã. Sentava ao fundo, inquieto. A moça estava à minha frente. Sentada ao seu lado, a irmã, que a abraçava tentando espantar-lhe o frio. A mais jovem vestia apenas um vestido que mal tocavam as canelas.
Fazia frio. Logo de início pensei em oferecer-lhes o meu casaco, mas não o fiz. Por quê? Não sei. A viagem ia passando e a cada instante, sentia-me mais incomodado em não ter dado meu casaco à menina.
Uma névoa começa a pairar sobre a embarcação, esfriando ainda mais os já frios bancos da barca. Resolvi fumar um cigarro. Mas, ao pegá-los, a caixa de fósforos cai ao chão. A menina se desvencilha dos braços confortáveis de sua irmã e os junta do chão:
- Seus fósforos, o senhor deixou cair.
- Obrigado! – As palavras me faltaram. A menina num gesto inocente pôs a meu ver todo meu egoísmo.
Suas mãos tremiam, tamanho era o seu frio e eu, perplexo com tão belo gesto. Dei-me conta então, que deveria ter-lhe oferecido o casaco antes.
- Você está tremendo de frio. Tome o meu casaco!
- Não! Eu não devo.
- Como não? Pegue.
- Muito obrigado, não sabemos como lhe agradecer, é que estava quente à tardinha e eu e minha irmã nos atrasamos. – disse-me a moça.
Voltei-me para a moça que agarrara a mão da menina. Tinha cabelos castanhos, olhos verdes, brilhantes como duas esmeraldas. Notei que suas vestes eram simples, mas de muita elegância.
- Você não é daqui, é? – perguntou-me a moça, com um lindo sorriso.
- Não. Estou só de passagem, to indo visitar minha tia. Ela mora do outro lado do rio. E você, mora aqui por perto?
- Sim. Eu moro do outro lado do rio, subindo pela estradinha da direita. – explicou-me a moça.
Lembrei-me que quando criança, quando ia para casa de minha tia, brincava com uma linda menina de olhos verdes, que morava por perto. Só podia ser ela.
De repente, o rapaz levanta-se de seu banco, interrompendo o silêncio em que refletia.
- Dê-me a menina! Vadia. - gritou ele em tom ameaçador.
- Nunca. Afaste-se de mim! – respondeu ela apavorada.
E agora! Encontrava-me no meio de ambos, sem saber o que fazer. A moça apavorada parecia temer algo. O que fazer?
O rapaz tira uma arma do bolso da capa e ameaça atirar.
- Atire se quiser. Só me matando levará a Júlia. – falou a moça, colocando-se à frente da menina.
Ele engatilha a arma. Está prestes a atirar. Eu, num momento de descuido do rapaz, parti para cima dele, a fim de tomar-lhe a arma. Ele resiste. Durante a luta, dois tiros quebram o silêncio do rio.
O rapaz cai morto no chão e eu, olho para meu peito. Só sangue. Uma das balas me acertou. Caí ao chão, sem forças para levantar. A respiração começa a ficar ofegante.
Um flash-back de minha vida passa ali, diante de meus olhos. Era minha infância e via, na casa de minha tia, uma linda garotinha de olhos verdes, brilhantes feito esmeraldas.
A moça, num gesto de me socorrer, pega um lenço que tem no bolso e com as mãos, tenta estancar o sangue até terminar a travessia.
- É você! – disse quase já sem conseguir falar.
- Como assim?
- A bela menina que eu brincava quando criança no alto do morro.
- Meu Deus! Passei todos estes anos tentando encontrar-lhe e nosso reencontro tinha de ser assim?
A moça tira a mão de meu peito e beija-me.
Vou com um sentimento de felicidade, pois, minha última imagem foi a bela menina dos olhos verdes como esmeraldas.
Um comentário:
Pois os meus olhos (verdes, como vários por aí, de várias tonalidades), se encheram de alegria com teu bom gosto literário. (Tem talento faz tempo).
Aceite um café, Peter.
Beijão!
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