sábado, 6 de junho de 2009

O tiro de Babel

Um tiro. Assim podemos começar a resumir Babel. A adaptação cinematográfica do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu consegue, com maestria, unir quatro histórias numa série de eventos desencadeados por um único tiro. Tudo começa com a compra de um rifle por Abdullah no Marrocos. A arma era para ser usada para caçar cabras por seus filhos. Ao invés disso, Yussef e Ahmed resolvem testar o alcance do rifle. Do alto da montanha vêem um ônibus. E o usam como mira. O tiro acerta em cheio o pescoço da americana Susan Jones, que está com seu marido Richard em uma viagem de férias.

Do outro lado do mundo, na América, Amelia, a babá mexicana dos filhos de Richard, precisa ir ao casamento de seu filho. Mas o acidente surge como um empecilho. Ele liga do Marrocos e conta que sua esposa havia levado um tiro. Ela teria de cuidar das crianças até que ele voltasse. Amelia não deveria ir ao casamento de seu filho no México. Mas Amelia precisava ir. Para isso, levou as duas crianças para o casório.

Enquanto isso, no Japão, Yasujiro é um poderoso empresário que perdeu a esposa em um suicídio ocorrido recentemente. Tem uma filha surda-muda, Cheiko, que vive a ânsia de uma jovem adolescente que se sente rejeitada por nunca ter transado. É dele a arma usada pelos garotos marroquinos.

É em meio a estas quatro histórias distintas que Iñárritu cria uma trama em função de um tiro aparentemente aleatório, mas que muda a vida destas quatro famílias. Em Babel, há de tudo, desde a paranóia antiterrorista até a desesperada luta dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos, que buscam uma vida melhor.

Analisando a filmagem, a decupagem de direção é ótima. Iñárritu consegue dar harmonia ao filme. As cenas, que ocorrem em tempos diferentes, são organizadas de tal forma e precisão que, o espectador não se perde na sua atemporalidade. Ao contrário, é possível lembrar-se da cena que ocorreu no início do filme para Amelia. Mas que, para Richard, acontece no final. Outro ponto interessante é a utilização dos planos. Em diversas cenas, como na do tiro ou na fuga da fronteira mexicana, os planos abertos, com trocas constantes para os planos fechados dão um tom de dramaticidade.

Babel é um filme com unidade. Apesar de serem quatro histórias distintas, com cultura e língua diferentes, é possível notar que as coisas combinam. A poeira do México. A pobreza do Marrocos. A vida rica na América. Tudo isso é um contraste difícil de quantificar numa filmagem. O fazer de forma orquestrada então, nem se fala. E foi isso que Iñárritu conseguiu: unidade. Babel é um filme que se encaixa. Desde a primeira cena, até o desfecho feliz, tudo ocorre de forma harmoniosa cinematograficamente.

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